Já te disse que gosto de acordar ao teu lado?
Sorrisos rasgados num olhos nos olhos impossível de negar.
Beijos sedentos de fome e sede e carência e saudade. Mãos a percorrer caminhos já tão familiares abarcando por fim naquele peito porto ao sabor do bater do coração como se fosse a primeira vez. Gemidos arrastados num quero-te tanto ornamentados pela ténue luz que a vila ao largo emanava. Suor e cansaço num misto de felicidade consentida.
Ainda sinto o corpo tremer. Saiu-me por palavras o que se ia soltando do meu abraço entrelaçado no peito quente dele cmo uma continuidade de mim para ele.
Disse-o hoje pela primeira vez. O amo-te tem sempre de ser sentido para ser vivido.
O que nos une é um tudo e um nada ainda por definir.
Um olhar cúmplice e um beijo molhado que nos suga a alma sem sairmos do sítio.
Uma carência absurda de quem não sabe estar ausente. Porque contigo eu não sou eu e tu não és tu, somos nós.
De alguma forma gosto de acreditar que nós somos nós para além do bem e do mal que estipulamos para o mundo que nos cerca. E de cada vez que as respirações se misturam, arde-nos na pele o suor dum fogo que não queremos extinguir.
Curvas de sorrisos e linhas de lágrimas num embate frutuito que só a vida sabe proporcionar. Um toca e foge demasido viciante para não aceitar o desafio.
Ninguém disse que seria fácil.
E eu disse-te em surdina com medo que fugisses, que não sou como as outras: exijo mais, quero mais, ambiciono mais...
E no revés do meu sussurro: gosto-te mais.
Sai-me erro atrás de erro como se conspirasse para me sabotar a mim mesma. Engraçado como o medo por vezes consegue dominar aquilo que pensamos ter definido.
Estou tão amarrada à minha zona de conforto onde não deixava ninguém entrar, que agora ao querer escancarar-lhe as portas e janelas perco o controle de mim mesma... Entro em rota de colisão entre a minha vontade dele e uma falsa consciência que me segreda baixinho ao ouvido o quanto não o mereço.
A minha fragilidade num frente a frente com a miúda caprichosa que diz que está sempre bem.
Todos falam de como é bom gostar de alguém mas ninguém fala do medo de perder que cresce proporcionalmente a isso.
Não gosto dele como no primeiro dia, gosto um pouco mais todos os dias.
Gosto-o a ponto de o deixar ir embora da minha vida se isso o fizesse feliz. Porque o gostar não é feito de correntes nem cadeados, não castra nem restringe, não prende nem sacrifica.
Gostar é uma dança que nos põe o mundo aos pés num compasso onde não se sabe se se vai ou não chegar.
Às vezes é preciso adormecer quando tudo o resto parece doer. Amanhã será sempre amanhã.
Às vezes estou nos teus braços e pergunto-me quando é que o destino me vai dar um safanão ao estilo do acorda que para dormir já bastam as noites não queiras também os dias.
Fica comigo, não me largues a mão. Contigo sei, que os sonhos também se fazem de olhos abertos.