Lembro-me exactamente do que fazia à onze anos. Vésperas de começar as aulas, liguei a tv para aproveitar os últimos dias de desenhos animados enquanto devorava os cereais.
Naquela manhã foi diferente. Via as imagens sucedendo-se, o segundo embate e acho que não me deu logo o clic do que estava a acontecer ficando ali quase que anestesiada em frente à televisão.
Aquilo não podia ser real, devia ser uma qualquer cena de acção para um filme que estava a ser gravada.
Até que quando finalmente a ficha pareceu cair peguei na bicicleta e pedalei até ao campo onde andava a minha avó e os meus tios dando-lhes a noticia. "Foi um acidente" diz um, "Não foi nada de grave" dizia outro. Todos falavam apressados e relativizavam o caso da boca para fora quando nos olhares se ouvia outra coisa. E por instantes eu quis acreditar que eles tinham razão. Passei o resto da tarde com eles no campo e por um bocado pus de lado o inferno que vi diante dos olhos a sair de dentro de uma mera caixa.