Encontra-me no meio da multidão pela enésima vez naquela noite.
Balança como se fosse um barco na maré de copo na mão e olhos mais perdidos do que ali. Custa-lhe a sair as palavras e pede-me que venha com ele para longe da multidão. Preciso falar contigo diz.
Já o conheço e esboço-lhe um sorriso amarelo como que a antever o que dali vem. Vou com ele e oiço-o enquanto profere uma espécie de discurso sincero tentando infrutiferamente acender um cigarro. "Gosto de ti desde o 5º ano, três anos com uma namorada e mais três anos com outra não me fizeram esquecer o que sinto por ti." E nisto agarra-me "Nunca vou desistir de te conquistar", numa espécie de promessa que não o deixo terminar.
Disse-lhe o mesmo que lhe digo desde esse mesmo 5º ano. E parti quando chegaram uns amigos dele.
No dia seguinte encontra-me novamente. Sóbrio mas de copo na mão pergunta-me preocupado o que me disse na noite anterior. Tranquilizo-o e digo que nada de mais que estivesse descansado. Ele insiste e volto a dizer-lhe que nada de importante.
Há coisas que se o álcool fez esquecer não devem ser lembradas.